Repressão policial ataca mais uma vez a Marcha dos Aposentados na Argentina de Milei
Mais de 80 pessoas ficaram feridas e dois repórteres fotográficos foram presos durante protesto reprimido sob ordens de Patricia Bullrich
247 - A cidade de Buenos Aires voltou a ser palco de repressão policial nesta quarta-feira (21), durante mais uma edição da Marcha dos Aposentados. A manifestação, realizada em frente ao Congresso Nacional, terminou com ao menos 80 pessoas feridas e a prisão de dois repórteres fotográficos. A violência, promovida pelas forças de segurança sob ordens da Ministra da Segurança, Patricia Bullrich, vem se tornando uma marca do governo do presidente Javier Milei.
As informações foram publicadas originalmente pela Telesur e confirmam um padrão de repressão sistemática contra protestos sociais na Argentina. Os manifestantes, entre aposentados e representantes de organizações como a Frente de Esquerda, o Polo Operário e a União dos Trabalhadores da Economia Popular (UTEP), exigiam um bônus emergencial diante do agravamento das condições de vida no país. A pobreza atinge atualmente mais de 11,3 milhões de argentinos, conforme dados do segundo semestre de 2024.
O protesto ocorreu no contexto do fracasso da sessão parlamentar que discutia medidas de alívio para aposentados. Em vez de respostas do Legislativo, os manifestantes encontraram cassetetes, gás lacrimogêneo e detenções arbitrárias. O jornalista Lula González, do portal El Destape, foi um dos agredidos. “Fui atingido por gás lacrimogêneo e um golpe de cassetete na cabeça por um membro da PSA. Estou indo para o pronto-socorro graças a todos que me ajudaram. Fiquei com muito medo porque, em determinado momento, não consegui ver nada e fiquei todo queimado pelos gases. É irracional reprimir dessa forma”, declarou.
Entre os detidos estavam os fotógrafos Tomás Cuesta e Javier Iglesias. Cuesta foi violentamente jogado ao chão, espancado e imobilizado com um joelho pressionado contra sua cabeça. As imagens da brutalidade circulam amplamente nas redes sociais e reforçam as denúncias de abusos cometidos pelas forças de segurança, que têm utilizado com frequência o chamado “protocolo antipiquete” instituído por Bullrich.
A repressão ocorreu enquanto os aposentados denunciavam o impacto da inflação no poder de compra. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (INDEC), a cesta básica total (CBT) subiu 0,9% apenas no mês de abril, enquanto a cesta básica de alimentos (CBA) aumentou 1,3%. A situação torna insustentável a vida dos que vivem de aposentadorias, especialmente diante da ausência de políticas públicas efetivas.
O Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS) repudiou os ataques e destacou que os instrumentos utilizados contra a imprensa e os manifestantes não são excessos isolados, mas parte de uma estratégia de silenciamento. “O gás lacrimogêneo e as balas usadas contra trabalhadores da imprensa não são excessivos; eles têm um propósito: punir aqueles que denunciam a violência policial”, afirmou a entidade, que também relatou mais de 80 feridos e quatro detidos no total.
A entidade ainda lembrou que “os aposentados têm reivindicado uma pensão que dê para comer o mês inteiro. Hoje, além da repressão ordenada pelo Ministério da Segurança, o Congresso voltou a lhes dar as costas”.
Enquanto o governo Milei insiste em aplicar uma agenda ultraliberal, com cortes orçamentários e redução de políticas sociais, a população mais vulnerável enfrenta um cotidiano cada vez mais adverso. As mobilizações populares se intensificam, mas têm sido sistematicamente sufocadas pela repressão policial, o que acende alertas em setores da sociedade civil e da comunidade internacional sobre o retrocesso democrático em curso na Argentina.
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