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      Alberto Cantalice

      Diretor da Fundação Perseu Abramo e membro da Direção do PT

      80 artigos

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      A infantil esquerda que a direita gosta

      'Conscientemente ou não, setores da esquerda ajudam a alimentar o discurso da direita contra o governo Lula', escreve o colunista Alberto Cantalice

      Ato da esquerda e a Esplanada dos Ministérios (Foto: Abr)

      Nos idos da década de 1980, quando o Partido dos Trabalhadores era refratário a todo tipo de aliança política e exibia um traço marcante de "udenismo de esquerda", o antropólogo e militante político Darcy Ribeiro cunhou a seguinte pérola: "Essa aí é a esquerda que a direita gosta".

      A frase, que irritou os militantes e dirigentes do PT à época, ou a fazer parte do anedotário político brasileiro — e hoje é reconhecida por parte desses antigos dirigentes petistas.

      De lá para cá, muita água correu por debaixo da ponte. Já em 1989, na primeira eleição direta para presidente após a redemocratização, a candidatura de Lula foi lançada ancorada, desde o primeiro turno, por uma aliança entre PT, PSB e PCdoB — e, no segundo turno, contou com o apoio de PCB, PSDB, PDT (do mesmo Darcy Ribeiro) e setores do MDB.

      Faltou, como bem lembrado e lamentado posteriormente por Lula, uma conversa com o então candidato do PMDB, Ulysses Guimarães, cuja votação representou quase exatamente a diferença final entre Collor e Lula no segundo turno.

      O PT, ao longo dos anos, se consolidou como partido e se tornou uma espécie de porta-voz dos interesses das classes trabalhadoras. Rompeu com o exclusivismo excludente e pôde, com 22 anos de vida orgânica, construir uma aliança política que permitiu a vitória do metalúrgico Lula — em parceria com o empresário têxtil José Alencar (à época filiado ao PL) como vice na chapa — nas eleições presidenciais de 2002.

      Avanços, rupturas e o flanco para o golpismo

      Eleito com expressiva votação, Lula iniciou o governo em 2003 com minoria na Câmara e no Senado. Era visto com desconfiança pelos agentes econômicos e com desprezo pela imprensa corporativa, mesmo após a "Carta aos Brasileiros", em que se comprometia a manter a tríade econômica herdada do governo de Fernando Henrique Cardoso: superávit primário, câmbio flutuante e metas de inflação.

      A primeira crise do governo se deu durante a necessária Reforma da Previdência, quando a então senadora Heloísa Helena e quatro deputados votaram contra a orientação do partido. Cabe lembrar que a mesma Heloísa Helena, já no PSOL, votou também contra a continuidade da MF — votação que rendeu um registro icônico nos anais da política brasileira: a fotografia da senadora comemorando a derrota do governo ao lado de oligarcas do Senado.

      Outros setores do PT romperam com o partido durante a Ação Penal 470 (o chamado "mensalão") e apressaram-se em fazer coro à grande mídia, contribuindo para a desmoralização do governo e do partido.

      Sob os gritos de "e Livre" e “Não Vai Ter Copa”, o escrutínio se deu fortemente, mesmo, durante as Jornadas de Junho de 2013 — manifestações que tomaram conta do país e abriram caminho para o golpe que viria três anos depois. Logo o movimento foi capturado pela direita, ficando Dilma com o desgaste e o “esquerdismo infantil” a ver navios, ou seja, com nada.

      A brutal perseguição a Dilma, Lula e ao PT, na malfadada Operação Lava Jato, não contou com a mínima solidariedade desses setores. Alguns, inclusive, aplaudiam os desatinos de Moro, Dallagnol e companhia (pouco limitada, aliás).

      Quando da prisão de Lula, em 2018, alguns se deslocaram das posições sectárias. Mas foi só após a eleição de Bolsonaro que os inconsequentes sentiram a água bater no nariz.

      Eleito Lula com franca minoria no Congresso Nacional, e apoiado por uma frente ampla que garantiu a vitória no segundo turno, parte desses setores voltou ao velho sectarismo — e sem qualquer criatividade no modo de agir.

      Agora se arvoram como críticos da política econômica do governo, liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A mesma política econômica que fez o Brasil crescer 7% em dois anos e abriu caminhos para a reconstrução das políticas sociais negligenciadas desde o golpe contra Dilma Rousseff.

      Acusam, sem nenhuma base factual ou respaldo acadêmico, o governo Lula 3 de ser neoliberal. Ora. Alguns atuam como verdadeiros quintas-colunas da extrema direita dentro do campo progressista. Usam nas redes sociais os mesmos expedientes: lacrar para posar de diferente — uma postura que parece ganhar adeptos em gabinetes mais dedicados ao "marketing digital" do que à política.

      Não enganam ninguém. O povo é sábio e sabe quem está ao seu lado o tempo todo. O governo e o partido já mostram, mais uma vez, a que vieram — e a quem vieram: ao povo brasileiro.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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