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      José Reinaldo Carvalho

      Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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      A paz na Ucrânia ainda está distante

      Rússia propõe solução justa e memorando com conteúdo sólido, mas intransigência de Zelensky e interesses externos impedem solução política

      (Foto: Reuters)

      Apesar dos recentes contatos diplomáticos entre Moscou e Washington, a guerra na Ucrânia segue sem perspectiva de encerramento. O presidente russo Vladimir Putin reafirmou ao seu homólogo estadunidense, Donald Trump, o compromisso com uma “solução justa” para o conflito. Em entrevista à TASS, o chanceler Sergey Lavrov, reiterou que o país continua empenhado na busca por um desfecho que respeite os fatos no terreno e os legítimos interesses da Federação Russa.

      O diálogo entre Putin e Trump foi descrito pelo Kremlin como “franco e informativo”. De acordo com declarações posteriores, ambos os líderes abordaram a possibilidade de um acordo de paz duradouro, que poderia ser formalizado por meio de um memorando assinado pelas partes beligerantes. O documento incluiria elementos como cessar-fogo, princípios para a resolução política do conflito e mecanismos jurídicos para garantir sua implementação.

      Contudo, conforme advertiu o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, esse processo ainda levará tempo. “A tarefa mais difícil agora é preencher este memorando com o conteúdo necessário. Conteúdo que estabeleça bases sólidas para o futuro e ajude a restaurar uma paz duradoura”. Ele também sublinhou o desafio de encontrar interlocutores legítimos e capazes de assumir compromissos em nome da Ucrânia.

      A solução justa defendida por Moscou parte em primeiro lugar da compreensão sobre as causas-raiz da guerra, sobretudo a expansão da OTAN e o projeto das potências imperialistas ocidentais. Desde a dissolução da antiga União Soviética, os EUA agiram com arrogância estratégica, ignorando compromissos assumidos verbalmente com a Rússia — como a promessa de que a OTAN não se expandiria “uma polegada sequer” para o leste. A realidade é que, de 1999 até hoje, a aliança militar ocidental absorveu quase todos os antigos membros do Pacto de Varsóvia, estendendo-se até as fronteiras da Rússia.

      Essa expansão não foi apenas simbólica. Foi acompanhada da instalação de bases militares, sistemas de mísseis e a presença de forças armadas norte-americanas no que é historicamente a zona de segurança da Rússia. Em 2014, o golpe na Ucrânia, patrocinado abertamente por Washington e Bruxelas, depôs um governo legitimamente eleito e alinhado à neutralidade, substituindo-o por um regime hostil à Rússia, e, em muitos aspectos, abertamente fascista.

      Esse golpe de Estado marcou o início do conflito Rússia-Ucrânia. Desde então, o povo do Donbass, majoritariamente russófono e culturalmente ligado à Rússia, foi submetido a perseguições, bombardeios e discriminação. Kiev não cumpriu os Acordos de Minsk, que previam autonomia para essas regiões, preferindo a militarização e o confronto. 

      A entrada das tropas russas na Ucrânia em fevereiro de 2022 foi uma resposta, mas inevitável diante da escalada militar, da recusa ucraniana ao diálogo, da violação dos Acordos de Minsk e do anúncio de que a Ucrânia ingressaria na OTAN.

      É fundamental entender que, para a Rússia, permitir a instalação de bases militares em seu entorno imediato seria uma abdicação da própria soberania. A Rússia, portanto, agiu movida por uma combinação de fatores: defesa de sua integridade estratégica, proteção dos povos russófonos do Donbass, contenção do avanço militar ocidental e reafirmação de sua soberania diante de décadas de humilhações e traições diplomáticas.

      A guerra na Ucrânia está longe do fim porque não se trata apenas de um confronto entre dois países vizinhos. Trata-se de uma disputa de alcance global, em que a Rússia propõe uma solução ancorada em novos equilíbrios e reconhecimento das mudanças territoriais. 

      Um dos principais obstáculos à solução do conflito é o não reconhecimento por parte da Ucrânia e seus aliados da OTAN, da nova realidade territorial e política: as regiões de Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson realizaram referendos e decidiram se integrar à Federação Russa. Para o governo russo, qualquer acordo de paz que ignore esse fato é irrealista.

      A Ucrânia mantém uma posição de absoluta intransigência: insiste na retomada de todos os territórios, inclusive os que já não estão sob controle de Kiev há mais de uma década, como a Crimeia. Essa exigência inviabiliza qualquer tratativa prática, pois desconsidera a correlação de forças no campo de batalha e o desejo expresso das populações locais.

      Outro fator que impede o avanço das conversas é o papel desempenhado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e pela União Europeia. Longe de atuarem como mediadores imparciais, essas entidades alimentam o conflito com envios contínuos de armas, sanções econômicas e tentativa de isolamento político e diplomático da Rússia

      Em vez de favorecer o diálogo, essas potências atuam como parte interessada na manutenção da guerra, seja para enfraquecer estrategicamente a Rússia, seja para garantir lucros à indústria militar. 

      Mesmo quando se apresenta como interessado na paz, o presidente dos EUA, Donald Trump, não esconde suas motivações pragmáticas. Nas conversas com Putin, mostrou-se aberto a discutir um memorando de paz, mas seu governo segue comprometido com a venda de armamentos e a presença militar americana na região.

      Além disso, há crescentes indícios de que a Casa Branca empenha-se para garantir o a recursos estratégicos, como as terras raras ucranianas, essenciais para a indústria de alta tecnologia. Nesse contexto, a “paz” defendida por Washington parece estar subordinada a condições que beneficiem seus próprios interesses comerciais e geopolíticos.

      A solução justa proposta pela Rússia, que inclui cessar-fogo, reconhecimento dos territórios incorporados e garantias de segurança mútua, hoje o único caminho viável para encerrar o conflito. Mas essa via exige realismo político, coragem diplomática e vontade sincera de paz. Coisas que, até o momento, estão ausentes nos gabinetes de Kiev, Bruxelas e Washington.

      A paz na Ucrânia está distante não por intransigência russa, mas por cálculo geopolítico dos EUA e da OTAN. As potências imperialistas ocidentais nunca tiveram como objetivo defender o povo ucraniano, que, aliás, serve de bucha de canhão em uma guerra por procuração. O objetivo real é enfraquecer a Rússia e impedir o avanço da multipolaridade.

      A guerra na Ucrânia é o capítulo mais visível de um embate mais profundo: entre o imperialismo ocidental e a luta de povos e nações por autodeterminação e soberania e pela construção do mundo multipolar..

      A paz na Ucrânia só será possível quando os EUA e seus aliados reconhecerem que o mundo mudou e que não podem mais impor suas vontades como senhores de um planeta unipolar. A Rússia, ao resistir ao cerco e afirmar sua dignidade nacional, não está apenas defendendo seus interesses: está pavimentando o caminho para um novo equilíbrio internacional.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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