Carta de Pequim será documento decisivo na nova era das relações entre Brasil, China e América Latina
O gigante asiático se move: entenda por que a 4ª edição do Fórum China-CELAC pode ser o ponto de inflexão das relações sino-latino-americanas
Está prestes a começar, em Pequim, o que pode ser um dos mais importantes eventos geopolíticos de 2025, com potencial de reorganizar as peças do tabuleiro global para os próximos anos: a 4ª edição do Fórum China-CELAC.
Mesmo que a priori tenha nível ministerial, a edição deste ano é entendida como especialmente promissora, de tal maneira que presidentes de países como Brasil, Colômbia e Chile, três dos mais relevantes da região latinoamericana, estarão presentes.
Conforme confirmado em coletiva de imprensa neste domingo (12) por Miao Deyu, vice-ministro assistente das Relações Exteriores da China, ao final das discussões serão adotados dois novos documentos que guiarão a cooperação entre o gigante asiático e os países latinoamericanos e caribenhos: a "Carta de Pequim" e o "Plano de Ação para a Cooperação em Áreas Prioritárias 2025–2027".
Nas palavras do vice-ministro assistente, a Carta de Pequim expressará a "firme determinação de ambas as partes em buscar a paz, o desenvolvimento e a cooperação". Tal documento sinalizará ao mundo em que pé está o entrosamento entre a China e os países da região mais diretamente afetada pela influência estadunidense - em um momento especialmente delicado, no qual Washington ameaça aplicar tarifas comerciais a qualquer um que o desagrade.
Pequim, no entanto, tenta deixar o clima propício para avanços: os chineses afirmam estar "com a porta cada vez mais aberta" para aprofundar parcerias, oferecendo "cooperações entre três ou mais partes, respeitando as vontades dos países da região, sem imposições nem busca por superioridade" - posição contrastante com as recentes ameaças de caráter imperialista dos Estados Unidos.
Os números já escancaram o sucesso chinês na empreitada de fincar raízes na região: o comércio entre a Terra do Meio e a América Latina saltou de US$ 12 bilhões no início do século para US$ 500 bilhões em 2024. Além disso, a China já participou da execução de mais de 200 projetos de infraestrutura na região e atraiu a adesão de mais de 20 países locais à Iniciativa Cinturão e Rota (também conhecida como Nova Rota da Seda).

Com um mercado consumidor de 1,4 bilhão de pessoas e ofertas de investimentos e desenvolvimento de projetos em setores estratégicos, como tecnologia, infraestrutura, agricultura, indústria, informatização, energia e mineração, os comunistas, jogando em casa, querem aproveitar oportunidade de amadurecer as relações com os latinos a tal nível que elas possam sobreviver, de maneira estável, a até mesmo trocas abruptas de governo.
Como maior país da América Latina, o Brasil do presidente Lula (PT) pode ser decisivo para o sucesso do plano chinês. E os primeiros sinais são animadores a Pequim: a delegação que acompanha o líder petista é robusta, com uma dezena de ministros de Estado, além de governadores, parlamentares e líderes de órgãos como Apex, BNDES, IBGE, entre outros, prontos para acordos de cooperação e discutir parcerias futuras.
Além da presença no Fórum China-CELAC, Lula participará do Fórum Empresarial Brasil-China nesta segunda-feira (12), promovido pela Apex, e terá uma reunião bilateral com o presidente chinês Xi Jinping na terça, dia em que também será recebido para um jantar privado na própria residência do comandante da segunda maior economia do mundo.
Há poucos anos enfraquecida e com o futuro ameaçado, a CELAC agora pode ter na capital chinesa o ponto de partida de uma carta endereçada à própria História.
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