Economia circular e APLs
Com APLs digitalizados e integrados a fontes de energia limpa e barata, afirma, seria possível até mesmo erradicar a fome
Um dos temas centrais a ser tratado na COP30, prevista para novembro próximo, em Belém, será a economia circular. O conceito aborda a transição global de um modelo econômico linear — baseado em extrair, produzir e descartar — para um sistema que busca reduzir o uso de recursos, minimizar resíduos e regenerar ecossistemas naturais.
Segundo reportagem do Fórum Mundial de Economia Circular, cuja primeira edição na América Latina teve início nesta semana em São Paulo, esse modelo é uma ferramenta essencial para enfrentar os desafios da adaptação às mudanças climáticas. O evento, criado em 2017 pelo Fundo de Inovação da Finlândia, ocorre agora em parceria com Fiesp, Senai-SP, Senai Nacional e a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No contexto agrícola, entende-se que os Arranjos Produtivos Locais (APLs) e Regionais podem ter papel decisivo no desenvolvimento do Brasil "de baixo para cima", como defende o autor, vinculado ao movimento “vamos fazer o Brasil grande de vez”. Esses arranjos não exigem grandes empreendimentos empresariais: o essencial é sua integração em redes colaborativas.
A proposta é articular atividades complementares de unidades produtivas locais em cadeias produtivas. Nesse modelo, resíduos gerados nas primeiras etapas do processo são reaproveitados como insumos nas etapas seguintes, o que reduz desperdícios e custos para todos os envolvidos.
Com a expansão dos APLs e o uso de plataformas digitais — que permitem acompanhar todo o ciclo produtivo em tempo real com um simples clique —, a produtividade aumenta significativamente, dispensando intermediários, sobretudo na comercialização pós-colheita.
Isso resulta em menor custo de produção e maior oferta de produtos, o que contribui para a redução de preços, beneficiando tanto os produtores quanto a sociedade. É verdade que, por sua alta produtividade, uma rede de APLs pode reduzir o número de empregos. No entanto, se concebidos como ambientes sociais e não apenas produtivos, os APLs podem gerar postos de trabalho em setores de serviços que compensem as perdas nas áreas industriais e agrícolas.
O autor reforça sua crença no protagonismo dos serviços nessa nova revolução civilizatória, que já está em curso. Esse setor, acredita ele, continuará a moldar o mercado de trabalho e a convivência social no futuro. Cita como exemplo o economista Gustavo Galvão, do BNDES, que prevê que o custo da energia elétrica tende a zero nas próximas décadas, uma vez solucionada a questão do armazenamento. Segundo Galvão, a China e a Arábia Saudita estão desenvolvendo uma gigantesca bateria de lítio com a finalidade de armazenar por longos períodos a energia captada gratuitamente do sol, do vento e da água.
Com energia barata, Galvão antecipa uma expressiva redução nos custos de produção industrial. O autor concorda e vai além: argumenta que a agricultura também poderia ter custos muito mais baixos se não fossem os intermediários, que retiram parte significativa da margem dos produtores. Com APLs digitalizados e integrados a fontes de energia limpa e barata, afirma, seria possível até mesmo erradicar a fome.
Mas, diante desse cenário de alta eficiência e enxugamento do mercado de trabalho, o que ocorrerá com os trabalhadores que integram esses arranjos? Uma parte permanecerá nos APLs, usufruindo maior participação nos lucros; outra poderá ser atraída pela possibilidade de desfrutar de uma vida melhor, dentro ou fora do ecossistema produtivo. O autor destaca que setores como turismo, artes e esportes devem ganhar centralidade nesse novo modelo, em estreita articulação com as comunidades locais — e, como ele enfatiza, “infensas ao ataque das máquinas”.
Essa visão, que se aproxima de uma utopia possível, depende, segundo o autor, de uma mobilização concreta da sociedade civil, sem esperar por iniciativas “de cima para baixo”. Ele faz uma crítica contundente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “Lula, traidor do nacionalismo e agora um neoliberal confesso, fez o jogo das classes dominantes e vai se manter fiel a elas, continuando a aceitar ivamente, sem protestos, o esmagamento do Estado Social Nacional pelos especuladores financeiros. Em troca, dá aos pobres algumas migalhas, na forma das políticas assistencialistas do PT.”
Diante desse cenário, ele retoma os APLs como uma chave para combater a fome e enfrentar as mudanças climáticas. Reconhece que, no atual estágio do século, ninguém pode mais ignorar a realidade dos desastres ambientais extremos. Por isso, defende que os municípios se preparem preventivamente e tenham recursos próprios para lidar com esses eventos.
Na perspectiva do autor, enquanto os recursos públicos continuam sendo drenados para campanhas eleitorais de baixo impacto — com exemplos explícitos de compra de votos, como na Baixada Fluminense —, as autoridades locais com compromisso social deveriam agir imediatamente para criar fundos regionais de prevenção climática.
A proposta é clara: que tais fundos sejam autorizados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com participação ativa da sociedade civil e sem envolvimento de agentes do mercado financeiro tradicional, como a Faria Lima ou a Febraban. Esses fundos seriam sustentados por investimentos oriundos dos próprios APLs, organizados sob os princípios da economia circular, o que garantiria alta rentabilidade aos investidores.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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