Gracias, Pepe Mujica!
Na entrevista que nos deu ao Brasil 247, Pepe Mujica disse que não acreditava na vida depois da morte.... E que cada dia da vida era para ser bem vivido
No último domingo, o ex-presidente do Uruguai José ‘Pepe’ Mujica não compareceu às urnas de votação nas eleições locais no país. Foi a primeira vez desde o retorno da democracia uruguaia, em 1985, que Mujica não votou. Lúcido até esta terça-feira, 13, quando seu ‘filho político’ e presidente uruguaio Yamandú Orsi informou sobre seu falecimento, ele não tinha condições físicas de sair de casa.
“Pepe sofre um câncer em estado terminal e recebe cuidados paliativos para não sentir dor”, disse Lucía Topolansky, ex-vice-presidente, ex-senadora e sua companheira de vida.
Ele viveu pouco mais de um ano após saber que tinha câncer no esôfago que acabou atingindo seu fígado, segundo seus médicos.
Aos 89 anos, com balas no corpo dos seis tiros que levou nos seus tempos de guerrilheiro tupamaro, Mujica tinha uma saúde frágil. Ele lembrava que além das balas tinha perdido o baço numa das cirurgias naqueles anos difíceis. Pepe fugiu algumas vezes das prisões e voltava a ser preso pela ditadura militar. Até que foi colocado numa solitária que ficou ainda mais conhecida com o filme “A noite de 12 anos”.
Há um ano, na longa entrevista ao Brasil 247, na chácara Rincón del Cerro, onde morava com Lucía Topolansky, no Uruguai, quando perguntado como sobreviveu à solitária, ele disse: “Lembrando as palavras, os trechos inteiros dos livros que li (antes de ser preso)”.
Apaixonado por Lucía, pelas flores, pelo cultivo da terra, pelos animais (dizia sentir saudades da sua cadela Manuela, de três patas), Mujica gostava de conversar, de ouvir, de ler muito. Conhecia a história do Brasil e irava o vizinho “gigante” do Uruguai. Chamava o presidente Lula de “hermano”, era forte crítico da concentração de riqueza e da pobreza em uma região rica – a América Latina.
Ao lado de Lucía Topolansky manteve seus ideais em defesa de um mundo mais justo. Dialogava com políticos opositores, até para entender o pensamento diferente. Mas lamentava o avanço da extrema-direita no mundo – Milei, Trump, Bukele... Nos últimos tempos, estava ainda mais preocupado com os jovens e dizia lamentar que o consumismo tenha ocupado o lugar dos sonhos, dos ideais.
Ele dizia que não sentia rancor pelos ditadores que o trancafiaram numa solitária. Cada etapa de sua vida (guerrilheiro, vendedor de flores, deputado, senador, ministro, presidente) foi importante para a sabedoria que acumulou. Sabedoria que conseguia transmitir com sua voz de paz, tranquila.
Mujica não tinha interesse pelos bens materiais. Achava que a grandeza da vida era viver – de preferência falando de política, da vida, com amigos, um copo de vinho e um bom churrasco. Prazeres da gastronomia e culturais que ele foi obrigado a arquivar para sempre depois do câncer. Mas seu amplo legado, seus ensinamentos, ficam para sempre e estão sendo agora, mais que nunca relembrados.
Na entrevista que nos deu ao canal Brasil 247, ele disse que não acreditava na vida depois da morte.... E que cada dia da vida era para ser bem vivido. E este também foi um de seus vários ensinamentos. Gracias, Pepe Mujica.
Pepe Mujica queria ser enterrado ao lado de sua cadela Manuela no quintal de onde morava com a sua companheira de vida, Lucía Topolansky.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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