"O Brasil troca protagonismo por simpatia", diz Breno Altman
Breno Altman critica política externa do governo Lula e diz que neutralidade pode isolar o país em cenário global cada vez mais polarizado
247 - Em comentário publicado no canal Opera Mundi no YouTube, o jornalista Breno Altman avaliou de forma crítica a estratégia de “não alinhamento ativo” adotada pela política externa do governo Lula. Altman destacou os riscos de manter uma postura pendular diante da crescente polarização global, marcada pelo confronto entre o bloco liderado pelos Estados Unidos e a aliança contra-hegemônica entre China e Rússia.
Segundo o jornalista, a orientação adotada pela diplomacia brasileira — consolidada sob o conceito elaborado por Celso Amorim, assessor internacional da Presidência — busca manter relações com todos os polos de poder, extraindo vantagens comerciais e econômicas dessa neutralidade. No entanto, Altman alerta que essa equação pode ter um custo geopolítico alto: “A dualidade também desgasta a capacidade de liderar trocando protagonismo por simpatia”.
Ele cita como exemplo a estagnação do processo de integração latino-americana, apesar de cinco dos seis principais países da região estarem sob governos de esquerda — México, Brasil, Venezuela, Colômbia e Chile. Para Altman, o comportamento do Brasil frente à Venezuela, especialmente o veto à entrada do país no BRICS, somado à aliança do presidente chileno Gabriel Boric com os Estados Unidos, compromete os avanços regionais. “Joga um papel decisivo para esse estado das coisas o comportamento do governo brasileiro com a Venezuela”, apontou.
Altman também menciona o caso dos investimentos em data centers como exemplo da disputa geopolítica disfarçada de interesse econômico. “Os Estados Unidos podem vir a investir em data centers, por exemplo, não somente por razões comerciais [...], mas porque é estratégico na disputa mundial de hegemonia controlar os dados de uma nação tão relevante quanto o Brasil”, afirmou. Ele reforça que, da mesma forma, o investimento chinês depende de confiança política, especialmente se o Brasil for percebido como parte de um projeto contra-hegemônico liderado por Pequim.
Em sua avaliação, o jornalista observa que a atual conjuntura internacional, intensamente polarizada desde o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA em 2025, estreita as possibilidades para países que optam pela neutralidade. “O não alinhamento sob essas circunstâncias pode levar à perda de oportunidades para que o Brasil possa romper com as eternas amarras do subdesenvolvimento e da dependência”, declarou.
Altman reconhece que a recente viagem do presidente Lula à China e à Rússia pode ser interpretada como um gesto importante rumo à unidade do Sul Global, mas evita superestimar seu impacto. “Ainda é cedo para afirmarmos que essa viagem representa uma mudança importante na política externa brasileira”, ponderou. Segundo ele, “por hora, porém, parece que a viagem foi apenas uma movida do pêndulo à esquerda, não a interrupção do movimento pendular que tem caracterizado a política externa do governo Lula 3”.
Para o jornalista, a superação da política de neutralidade exige mais que movimentos táticos: exige um novo tipo de projeto nacional. “Não contribui para criar um ambiente no qual possa emergir um novo tipo de nacionalismo, intrinsecamente vinculado à luta anti-imperialista, à solidariedade entre os povos, à justiça social e ao desenvolvimento soberano”, concluiu. Assista:
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