Deputado alemão propõe expulsar todos os diplomatas russos da Alemanha

247 - O jornal econômico alemão Handelsblatt publicou nesta terça-feira (3) uma entrevista com o deputado Roderich Kiesewetter, membro da União Democrata Cristã (CDU) e figura influente da política externa alemã, na qual ele propõe a expulsão de todos os diplomatas russos ainda presentes na Alemanha. A justificativa, segundo ele, é combater supostas ameaças híbridas e cibernéticas atribuídas à Rússia.

“Devemos expulsar todos os diplomatas restantes”, afirmou Kiesewetter ao Handelsblatt, alegando que a medida contribuiria para “reduzir a influência de Moscou na Alemanha”. O parlamentar sustenta que o país está “insuficientemente protegido contra ataques cibernéticos”, os quais, segundo ele, partiriam “principalmente da Rússia”.

Além da Rússia, o deputado também apontou China, Coreia do Norte e Irã como fontes de supostos ataques hackers. No entanto, sua principal ênfase recaiu sobre Moscou, que ele acusa de tentar “mudar a opinião pública na Alemanha” por meio de ações digitais e campanhas de desinformação.

Kiesewetter defendeu ainda a criação de uma agência estatal dedicada a rebater desinformação, inclusive com o uso de “atividades híbridas” por parte do governo alemão. Ele sugeriu o banimento de turistas e jornalistas russos, o fechamento de portais considerados “propagandísticos” e a exclusão de contas em redes sociais classificadas como suspeitas pelas autoridades.

Entre os alvos apontados pelo parlamentar está o centro cultural Russian House, istrado pela agência russa Rossotrudnichestvo em Berlim, responsável por promover eventos culturais e cursos de idioma. Para Kiesewetter, o local seria parte de uma rede de “influência” russa e deveria ser encerrado.

A proposta provocou forte reação de autoridades russas. Em entrevista ao portal Lenta.ru, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, ironizou a proposta: “Berlim deve estar sentindo falta dos diplomatas alemães”, disse, em alusão a possíveis medidas de reciprocidade.

A agência Rossotrudnichestvo classificou as falas de Kiesewetter como “absurdas” e “sem qualquer relação com a realidade”. Em nota, um porta-voz da entidade afirmou que o parlamentar “nada sabe sobre as atividades do Russian House em Berlim e nunca esteve no local”. Já o diretor do centro cultural declarou à agência TASS que esse tipo de discurso “não contribui para o diálogo internacional”, além de “reforçar o clima de desconfiança e incitar o ódio e a hostilidade”.

Esta não é a primeira vez que Kiesewetter causa controvérsia com suas posições radicais. No ano ado, ele chegou a defender que a Alemanha deveria “levar a guerra à Rússia” e fazer “todo o possível para permitir que a Ucrânia destrua ministérios e centros de comando” em território russo. Ele também é um dos principais defensores do envio de mísseis de cruzeiro Taurus, com alcance de 500 km, para Kiev — armamento capaz de atingir Moscou.

As declarações de Kiesewetter ocorrem em um momento de endurecimento da política externa alemã sob o novo chanceler Friedrich Merz. Desde que assumiu o cargo, Merz autorizou o uso de armas fornecidas pela Alemanha em ataques ucranianos contra alvos dentro da Rússia e sinalizou abertura para o envio dos mísseis Taurus. Em resposta, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, afirmou que “o envolvimento direto de Berlim na guerra agora é evidente”.