Israel assume ataque na Síria, alegando proteger drusos, em meio à escalada de violência sectária no país
Bombardeio em Sahnaya matou membros das forças de segurança sírias; governo israelense afirma ter agido contra “grupo extremista”
(Reuters) — Israel declarou nesta quarta-feira (30) que conduziu um ataque na Síria contra o que chamou de “grupo extremista”, acusado de agredir membros da comunidade drusa. A ação, segundo o governo israelense, é uma resposta direta à crescente violência sectária nas proximidades de Damasco e representa a primeira operação militar israelense abertamente voltada à proteção dos drusos sírios desde a queda de Bashar al-Assad em dezembro do ano ado.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Síria rejeitou “todas as formas de intervenção estrangeira” nos assuntos internos do país, sem citar diretamente Israel, e reiterou o compromisso de proteger todos os grupos sírios, “incluindo a nobre seita drusa”.
A operação israelense marca uma guinada na política regional e impõe um novo desafio à autoridade do presidente interino Ahmed al-Sharaa, que tenta consolidar o controle sobre uma Síria dilacerada pela guerra civil e pela fragmentação étnica e religiosa. Ex-comandante da Al-Qaeda, Sharaa havia prometido um governo inclusivo, mas os episódios de violência, como o massacre de centenas de alauítas em março, ampliaram o temor das minorias diante da ascensão dos grupos islâmicos sunitas.
Uma fonte do Ministério do Interior da Síria confirmou à Reuters que drones israelenses atacaram forças de segurança em Sahnaya — cidade majoritariamente drusa nos arredores da capital — matando um dos agentes. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, ao menos 22 pessoas morreram na localidade: seis combatentes drusos e 16 integrantes das forças de segurança ou aliados.
Em pronunciamento conjunto, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o ministro da Defesa Israel Katz afirmaram que “as forças armadas israelenses conduziram uma operação de alerta e atacaram um grupo extremista enquanto este se preparava para continuar um ataque contra os drusos em Sahnaya”. E acrescentaram: “Ao mesmo tempo, uma mensagem foi ada ao regime sírio: Israel espera que ele aja para evitar danos aos drusos”.
A escalada da violência teve início na terça-feira, com confrontos em Jaramana — área predominantemente drusa — entre milícias sunitas e moradores locais. O estopim foi uma gravação de voz com ofensas ao profeta Maomé, supostamente atribuída a um druso, o que provocou a reação dos grupos radicais. O conflito se intensificou e se espalhou para Sahnaya no dia seguinte, com saldo de dezenas de mortos.
Segundo o diretor de segurança da zona rural de Damasco, um cessar-fogo chegou a ser acordado em Jaramana, mas os ataques se intensificaram em Sahnaya na quarta-feira. Ao todo, 16 agentes das forças de segurança foram mortos. Centenas de efetivos do Ministério do Interior foram mobilizados após um acordo com líderes drusos locais.
A tensão forçou os moradores a se recolherem em suas casas. “Estamos em pânico e medo extremos por causa dos bombardeios indiscriminados, que estão forçando a maioria de nós a ficar totalmente confinados em casa”, relatou Elias Hanna, residente dos arredores de Sahnaya. “Estamos preocupados que os massacres da costa se repitam perto de Sahnaya contra os drusos”, acrescentou.
A comunidade internacional demonstrou preocupação. Geir Pedersen, enviado especial da ONU para a Síria, declarou estar “profundamente preocupado” com os conflitos nos arredores de Damasco e em Homs, e pediu medidas imediatas para proteger civis e evitar o agravamento das tensões sectárias.
Apesar dos apelos da nova liderança islâmica para centralizar o controle das armas em Damasco, grupos drusos se recusaram a entregar seu armamento, alegando que o governo falhou em protegê-los de facções hostis. O governo israelense, por sua vez, reiterou em março seu compromisso com a defesa dos drusos, especialmente após ataques aos alauítas atribuídos por autoridades islâmicas a antigos aliados de Assad.
O histórico de ataques israelenses à Síria durante o governo Assad visava conter a presença iraniana. Hoje, Israel abriga uma pequena comunidade drusa e cerca de 24 mil drusos vivem nas Colinas de Golã, região síria ocupada por Israel desde 1967 e anexada em 1981 — um movimento não reconhecido pela ONU nem pela maioria dos países.
O líder espiritual dos drusos em Israel, Sheikh Muwafaq Tarif, declarou na terça-feira que acompanha de perto os desdobramentos na Síria e que discutiu a situação com o ministro da Defesa de Israel. O governo israelense informou ainda que três cidadãos drusos sírios foram evacuados para tratamento médico em seu território.
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