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      Israel deixa Gaza sem comida e bebês palestinos à beira da morte

      Ajuda humanitária continua bloqueada por Israel; ONU alerta que 14 mil bebês podem morrer nesta semana se caminhões não entrarem no território

      Fila por comida na Faixa de Gaza (Foto: Saleh Salem/Reuters)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - A tragédia humanitária na Faixa de Gaza atinge níveis dramáticos à medida que o genocídio iniciado em outubro de 2023 avança sem perspectiva de solução e o bloqueio à entrada de ajuda humanitária persiste. Conforme reportagem do jornal O Globo, moradores do enclave palestino relatam o avanço da fome, a destruição completa da infraestrutura civil e o medo constante, enquanto Israel mantém restrições severas à entrada de alimentos e insumos básicos. Na terça-feira (20), o governo israelense autorizou a liberação de cem caminhões com alimentos, mas apenas uma fração deles conseguiu entrar — número ainda muito distante dos 300 veículos por dia considerados essenciais para atender a mais de dois milhões de pessoas.

      “Meus filhos vão para a cama com fome”, relatou à BBC o pai do pequeno Ismail Abu Odeh, de seis anos, após ver o filho chorar por não conseguir encher o prato com arroz e lentilhas durante uma entrega de comida no norte do enclave. Em Gaza, episódios como esse se multiplicam. “Por vezes me sento e choro como um bebê se não conseguir levar alimentos para eles”, confessou o homem, que tem seis filhos, em uma região onde casas, água e eletricidade já não existem para boa parte da população.

      A crise alimentar em Gaza foi classificada no nível mais grave pela Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), consórcio apoiado pela ONU. Segundo o relatório mais recente, 470 mil pessoas enfrentam risco extremo de fome e praticamente toda a população do território vive em situação de insegurança alimentar. A retomada dos bombardeios por Israel, após o colapso do cessar-fogo em março, só agravou um cenário já devastador.

      “Não há casas, nem água, nem eletricidade” - “Quando começaram as notícias sobre o cessar-fogo estar por um fio, as mães ao meu redor começaram novamente a escrever os nomes nos antebraços dos filhos”, relatou Amal, integrante de uma organização da sociedade civil em Gaza, ao Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos. Ela resumiu a brutalidade do cotidiano em 2025: “não há casas, nem água, nem eletricidade. Quem ainda fala dessas coisas em 2025?”.

      A enfermeira brasileira Ruth Barros, da organização Médicos Sem Fronteiras, esteve em Gaza entre fevereiro e abril deste ano. Ela descreveu o colapso do sistema de distribuição de alimentos após a interrupção do envio de ajuda. “As proteínas foram as primeiras a acabar, depois as frutas e os vegetais. E por fim o pão, que é algo essencial e básico para a alimentação palestina”, afirmou. Segundo ela, “a escassez veio muito rápido”, e mercados inteiros reduziram suas prateleiras para disfarçar a falta de produtos.

      “Fazemos uma refeição por dia” - A fome atinge com maior intensidade mulheres e crianças. Segundo o Escritório de Direitos Humanos da ONU, 70% dos mortos desde o início do conflito são mulheres e menores de idade. Um Muhammad, moradora de um abrigo em Gaza, declarou ao UN News: “fazemos uma refeição por dia, dividindo pão entre cada pessoa. Comemos enlatados, lentilhas e arroz. Quando esse estoque acabar, não sei o que faremos, porque o que está disponível no mercado é escasso”.

      De acordo com o relatório do IPC, cerca de 17 mil mães e 71 mil crianças sofrem de desnutrição aguda. A situação é tão crítica que o subsecretário-geral para Assistência Humanitária da ONU, Tom Fletcher, alertou que 14 mil bebês podem morrer até o fim desta semana caso não haja a entrada urgente de mantimentos.

      “Essas mães, essas mulheres, apresentavam uma deterioração muito grave das suas condições de saúde”, relatou Ruth Barros. “A desnutrição entre as gestantes, entre as lactantes era muito séria”, observou, acrescentando que os profissionais de saúde não conseguiam mais seguir os protocolos de tratamento devido à ausência de insumos.

      Órfãos e resistência ao horror - O genocídio já deixou um rastro de crianças órfãs: segundo dados da agência palestina de estatísticas, cerca de 39 mil perderam um ou ambos os pais desde outubro. Elas sobrevivem com a ajuda de parentes que, muitas vezes, mal têm como se alimentar. Barros contou que uma colega de trabalho, que já tinha quatro filhos, acolheu os quatro sobrinhos após a morte do cunhado e da esposa. “Atualmente são oito crianças para alimentar. E ela contava que, quando chegava do trabalho, às vezes não tinha mais alimento, porque as crianças já tinham comido”.

      Pressão internacional e endurecimento israelense - Organizações e governos de diversos países intensificaram os apelos para o fim do bloqueio. A ONG israelense Gisha, que atua em defesa da liberdade de movimento dos palestinos, classificou a política de Tel Aviv como um projeto deliberado de expulsão. “A issão flagrante de uma série de crimes de guerra e possíveis crimes contra a Humanidade não deve ser enfrentada com silêncio”, afirmou a entidade.

      Durante o Dia da Lembrança do Holocausto, um pequeno grupo de israelenses protestou em frente ao museu Yad Vashem, comparando o sofrimento atual dos palestinos ao ado trágico do povo judeu. “Não podemos nos lembrar do nosso sofrimento sem reconhecer o sofrimento de Gaza, a morte de dezenas de milhares de crianças”, disse a sobrevivente Veronika Cohen ao jornal The Guardian.

      Em entrevista à BBC, o chefe da UNRWA, agência da ONU para refugiados palestinos, disse que o bloqueio dos caminhões representa o uso da “fome como arma de guerra”. Declarações semelhantes vieram do presidente francês Emmanuel Macron, que chamou a situação de “vergonhosa”, e do secretário-geral da ONU, António Guterres, que se disse “muito alarmado”.

      Na Europa, a chefe da diplomacia Kaja Kallas declarou que há apoio majoritário para rever o acordo de associação com Israel. “O que nós queremos é desbloquear a ajuda humanitária para que ela chegue às pessoas”, afirmou em Bruxelas.

      Trump critica a fome, mas mantém apoio a Israel - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que se autodeclara “o líder americano mais pró-Israel da História”, reconheceu que “muitas pessoas estão ando fome” em Gaza. Embora não tenha visitado Israel em sua recente viagem ao Oriente Médio, Washington anunciou que a Fundação Humanitária de Gaza, dos EUA, poderá iniciar a entrega de ajuda nos próximos dias. O plano, contudo, é vago e cercado de incertezas.

      Netanyahu diz que críticas são “prêmio” ao Hamas - Apesar da pressão crescente, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu rechaça qualquer mudança de estratégia. Ele afirmou que as críticas internacionais são “um troféu para o Hamas”, enquanto o Ministério das Relações Exteriores de Israel classificou os apelos como resultado de “uma obsessão anti-Israel”.

      “Orações e pressão externa não nos farão desviar de nosso caminho”, declarou o porta-voz da pasta, Oren Marmorstein, à AFP. Entretanto, integrantes do próprio Exército israelense ouvidos pelo New York Times itiram que a liderança do país está ciente da crise e que muitas regiões ficarão sem alimentos em breve, caso o bloqueio não seja suspenso.

      “Não precisamos esperar por uma declaração de fome em Gaza para saber que as pessoas já estão ando fome, doentes e morrendo, enquanto alimentos e medicamentos estão a minutos de distância”, alertou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da Organização Mundial da Saúde.

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