Trump recorre a fake news e usa imagem de mortos no Congo para alegar assassinato de brancos na África do Sul
Presidente dos EUA apresentou vídeo gravado no Congo como falsa evidência de genocídio de fazendeiros brancos sul-africanos em reunião com Cyril Ramaphosa
247 – Durante uma reunião tensa na Casa Branca com o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exibiu uma imagem que, segundo ele, seria prova de assassinatos em massa de brancos na África do Sul. A imagem, porém, foi retirada de um vídeo feito pela agência Reuters na cidade de Goma, na República Democrática do Congo, durante o conflito com os rebeldes do M23. A informação foi revelada pela própria Reuters.
“Estes são todos fazendeiros brancos que estão sendo enterrados”, afirmou Trump ao mostrar uma impressão da imagem, durante o encontro televisionado. O presidente norte-americano então exibiu cópias impressas de artigos com títulos sensacionalistas, enquanto dizia “morte, morte, morte, morte horrível”, referindo-se ao suposto massacre de brancos na África do Sul — uma teoria da conspiração que circula há anos em fóruns da extrema direita e que já foi diversas vezes desmentida.
Imagem era do Congo, não da África do Sul
O vídeo utilizado por Trump foi publicado pela Reuters em 3 de fevereiro de 2025 e mostra trabalhadores humanitários transportando sacos mortuários após violentos combates entre o exército congolês (FARDC) e os rebeldes do M23. A filmagem foi feita pelo repórter Djaffar Al Katanty, que descreveu as dificuldades enfrentadas para registrar as imagens naquele dia: “Tive que negociar diretamente com o M23 e coordenar com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha para conseguir filmar”, contou. “Apenas a Reuters tem vídeo daquele momento”.
Al Katanty ficou surpreso ao ver seu trabalho sendo usado de forma distorcida pelo presidente dos EUA. “Diante de todo o mundo, o presidente Trump usou minha imagem, usou o que filmei na República Democrática do Congo para tentar convencer o presidente Ramaphosa de que, no seu país, pessoas brancas estão sendo mortas por pessoas negras”, disse o jornalista.
Origem da imagem: blog de extrema direita
A imagem em questão foi extraída de uma postagem do site norte-americano American Thinker, um blog conservador que abordava conflitos raciais na África do Sul e no Congo. O texto fazia críticas severas ao governo de Ramaphosa, que classificava como “marxista, disfuncional e obcecado por raça”. A imagem foi creditada vagamente como uma “captura de tela do YouTube” e incluía um link para o vídeo original da Reuters sobre o Congo.
Andrea Widburg, editora-gerente do American Thinker e autora da postagem usada por Trump, itiu em resposta à Reuters que o presidente “identificou erroneamente a imagem”. No entanto, ela defendeu o conteúdo do artigo e a crítica ao que chamou de “pressão crescente sobre os brancos sul-africanos”.
Repercussões diplomáticas
A visita de Ramaphosa a Washington tinha como objetivo melhorar as relações com os Estados Unidos, após meses de ataques verbais por parte de Trump, que frequentemente critica as políticas fundiárias da África do Sul e acusa o país de perseguir a minoria branca — alegações firmemente rejeitadas por Pretória.
O uso de imagens falsas por Trump para sustentar teorias racistas e infundadas elevou ainda mais a tensão entre os dois países. A Casa Branca não respondeu aos pedidos de comentário da Reuters sobre o episódio.
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