China se aproxima da América Latina com laços culturais, comerciais e humanos

Por Cui Xingyu, repórter da CGTN, especial para o Brasil 247 – Ao longo da última década, China e América Latina construíram uma parceria dinâmica marcada pelo aprofundamento da cooperação econômica, intercâmbios culturais e compreensão mútua. Desde o lançamento do Porto de Chancay, no Peru — um polo logístico crucial que conecta a região da Ásia-Pacífico — até a construção da Linha 1 do Metrô de Bogotá, o primeiro projeto ferroviário da Colômbia, a ambição compartilhada entre os dois lados tem se traduzido em avanços concretos no terreno.

E além da infraestrutura, são as experiências vividas por indivíduos que realmente fortalecem esse vínculo crescente. Através de suas jornadas pessoais, vemos como duas regiões geograficamente distantes podem — e estão — construindo conexões significativas.

O vínculo vitalício de um acadêmico brasileiro com a China

Para Evandro Menezes de Carvalho, chefe do Grupo de Pesquisa Brasil-China na Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro, a China é mais que um objeto de estudo.

Sua conexão com o país começou em 2013. Movido por uma profunda curiosidade sobre sistemas jurídicos diferentes e pelo crescente interesse no maior parceiro comercial do Brasil, Carvalho chegou a Xangai como pesquisador visitante. Sua estadia de três anos lhe proporcionou uma visão radicalmente distinta da China em relação àquela frequentemente retratada pela mídia ocidental. O que começou como uma investigação acadêmica logo se transformou em um engajamento profundo com a sociedade, cultura e governança chinesas.

Desde então, Carvalho retornou com frequência à China, e cada visita enriqueceu ainda mais sua compreensão sobre o país. Em 2023, ou quase um ano na Universidade de Pequim, aprofundando suas pesquisas e vivências. Atualmente, é Professor Catedrático Wutong na Universidade de Língua e Cultura de Pequim e segue empenhado em promover o diálogo intercultural.

Ele também leva seus aprendizados para a sala de aula no Brasil, incentivando uma nova geração de estudantes a explorar e compreender a China além dos estereótipos. Fora da academia, traduziu para o português o livro do presidente chinês Xi Jinping, Acabar com a Pobreza, tornando seu conteúdo ível ao público brasileiro. Além disso, é autor do livro China: Tradição e Modernidade na Governança do País, que oferece aos leitores locais uma visão ível e detalhada da China.Em 2023, Carvalho foi agraciado com o Prêmio de Amizade do Governo Chinês – a mais alta honraria concedida a especialistas estrangeiros na China.

Evandro Menezes de Carvalho (à esquerda) recebe o Prêmio de Amizade do Governo Chinês no Grande Palácio do Povo, em Pequim, China, 4 de fevereiro de 2024. / Foto: cortesia de Evandro Menezes de Carvalho

O negócio de sucesso de um comerciante peruano na China

Em Yiwu, uma cidade movimentada na Província de Zhejiang, no leste da China — conhecida como a “capital mundial dos pequenos produtos” — Harold Mori, um jovem empreendedor do Peru, está construindo um próspero negócio de exportação.

Como muitos outros, a jornada de Mori começou com o objetivo de estudar no exterior. Recém-formado na universidade, ele queria aprender um novo idioma e rapidamente escolheu a China como destino. Em 2015, chegou a Xangai para estudar chinês e depois cursou um MBA na cidade.

Imerso na vida urbana e dinâmica do país, Mori ficou fascinado pelo mercado em constante evolução. Após concluir seus estudos, tomou uma decisão ousada: em vez de retornar ao Peru, decidiu permanecer e abrir um negócio na cidade vizinha de Yiwu. Lá, encontrou uma oportunidade de ouro — uma infinidade de produtos a preços competitivos. De órios para celular e brinquedos a utensílios de cozinha e pequenos eletrodomésticos, o negócio de Mori se especializou na exportação de produtos chineses populares para o Peru.

Agora, com o lançamento do Porto de Chancay — um projeto emblemático da Iniciativa do Cinturão e Rota da China — o tempo de envio da China para o Peru foi reduzido para cerca de 20 dias. Para empreendedores como Mori, isso representa mais do que entregas mais rápidas: é a abertura de novas oportunidades e de um futuro com ainda mais potencial.

A missão curativa de um médico chinês na Argentina

No coração de Buenos Aires, Dr. Li Wenzhong tornou-se um pioneiro na construção de pontes culturais através do poder curativo da medicina tradicional chinesa (MTC). Como fundador de uma clínica e empresa farmacêutica de MTC, ele introduziu a acupuntura, terapias herbais e técnicas diagnósticas a pacientes distantes de sua cidade natal, Pequim.

Sua jornada para a Argentina começou nos anos 1980, no início do período de reformas e abertura da China. Com a visão de compartilhar os benefícios da MTC com o mundo, mudou-se para Buenos Aires e iniciou sua prática médica em um cenário cultural completamente diferente.

Na época, a infestação por piolhos era um problema de saúde comum na Argentina, especialmente entre crianças em idade escolar. Os tratamentos convencionais muitas vezes eram ineficazes e causavam efeitos colaterais indesejados. Após meses de pesquisa e testes clínicos, o Dr. Li desenvolveu um tratamento baseado na MTC que se mostrou seguro e eficaz. A terapia rapidamente se popularizou e conquistou a confiança das famílias locais.

Posteriormente, ou a se dedicar à educação e ao intercâmbio cultural, tornando-se professor visitante na Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires, onde introduziu a MTC a uma nova geração de estudantes argentinos. Entre 2012 e 2015, com apoio do Dr. Li, o Ministério da Saúde da Argentina enviou diversas delegações à China para explorar parcerias na área da MTC. Esses intercâmbios lançaram as bases para uma colaboração mais ampla na saúde pública entre os dois países.

Distantes geograficamente, unidos pelo coração

“Amigos de verdade sempre se sentem próximos, não importa a distância que os separe.” O presidente chinês Xi Jinping já citou esse verso de um antigo poema chinês para definir o relacionamento entre a China e a América Latina e o Caribe.

Desde 2012, a China é o segundo maior parceiro comercial da região, com uma cooperação que vai além de matérias-primas e bens manufaturados, abrangendo energia verde, inovação digital e comércio eletrônico transfronteiriço.

Ao longo da última década, a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) deu novo impulso a essa parceria. Até o momento, 22 países da região am acordos de cooperação com a China no âmbito da BRI, aprofundando a integração e abrindo novos caminhos para o desenvolvimento mútuo.

Essas histórias reais são lembretes poderosos de que, embora oceanos separem os continentes, aspirações compartilhadas e amizades duradouras podem aproximar ainda mais os povos.

Cui Xingyu é repórter da CGTN e apresentadora do podcast “Footprints” – que explora histórias pessoais por trás das conexões globais da China.