Tarifaço e fundo ambiental serão prioridades dos chanceleres do Brics no Rio
Encontro nos dias 28 e 29 de abril discutirá crise comercial global, fortalecimento da OMC e financiamento climático, sob liderança brasileira
247 – Enfrentar a crise comercial global, marcada por imposições tarifárias, e pressionar países ricos a ampliar os investimentos em fundos de combate às mudanças climáticas estão entre as prioridades que o Brasil pretende levar à reunião de chanceleres do Brics, nos dias 28 e 29 de abril, no Rio de Janeiro. As informações são da Agência Brasil, que entrevistou o embaixador Mauricio Carvalho Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores e Sherpa do Brasil no bloco.
Atualmente, o Brics é composto por 11 países: África do Sul, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã, Rússia e Arábia Saudita — este último ainda em processo final de adesão. Outros países também participarão das reuniões como convidados.
Críticas ao unilateralismo e reforço ao multilateralismo
Segundo Mauricio Lyrio, o encontro no Rio de Janeiro terá como uma de suas prioridades a reafirmação da defesa do comércio multilateral. "Nosso apoio é pleno ao sistema de comércio multilateral, baseado em concessões feitas por diferentes países", afirmou. Ele adiantou que os ministros devem negociar uma declaração reforçando a centralidade das negociações multilaterais e criticando medidas unilaterais "de qualquer origem".
Sem mencionar diretamente os Estados Unidos, Lyrio apontou que o Brasil vê o Brics como um fórum importante para se opor às medidas tarifárias do governo do presidente Donald Trump, que têm afetado especialmente a China. O embaixador destacou também a necessidade de revitalizar a Organização Mundial do Comércio (OMC), cujo Órgão de Apelação está paralisado desde 2019 devido a bloqueios norte-americanos na nomeação de juízes.
"Isso priva o sistema multilateral do instrumento utilizado para solucionar controvérsias", explicou. Lyrio lembrou que, diante da situação, o Brasil participa de um mecanismo paralelo de apelação com países como Japão, Canadá e União Europeia. "Infelizmente só temos esse sistema paralelo atualmente. Importante que os países reforcem o apoio à OMC", concluiu.
Financiamento climático: foco estratégico para o Brasil
Como sede da COP30 em 2025, o Brasil quer impulsionar dentro do Brics a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), uma iniciativa para financiar economias de baixo carbono. De acordo com Lyrio, uma das metas é assegurar que os países historicamente mais poluentes assumam uma responsabilidade maior no financiamento das ações climáticas.
"Estamos negociando para os líderes do Brics uma declaração sobre financiamento do combate à mudança do clima", disse. Ele ressaltou que o Brasil defende a manutenção da distinção prevista no Acordo de Paris, que obriga países desenvolvidos a financiarem a transição energética, enquanto permite aos demais que contribuam de forma voluntária. "O Brasil é solidário com os países emergentes, porque o Acordo de Paris prevê que os países ricos, que mais poluíram ao longo do tempo, assumam obrigação financeira de combate às mudanças climáticas", afirmou.
Preparação para a cúpula e fortalecimento do Sul Global
A reunião dos chanceleres será presidida pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e terá três sessões de trabalho focadas em preparar decisões que serão tomadas pelos líderes na cúpula do Brics, marcada para os dias 6 e 7 de julho, também no Rio.
Entre os temas que estarão em debate estão o papel do Brics diante dos desafios globais, as crises regionais, o compromisso com a paz e a resolução de conflitos geopolíticos, a reforma da governança global, o fortalecimento do multilateralismo pelo Sul Global, além de assuntos como saúde, comércio, mudanças climáticas e combate à pobreza.
O ministro Mauro Vieira também terá uma intensa agenda de reuniões bilaterais com chanceleres da Indonésia, Rússia, Tailândia, China, Cuba, Nigéria e Etiópia.
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