Depoimento de ex-comandante da Aeronáutica vai fazer Bolsonaro e outros réus 'sofrerem', dizem advogados
Carlos Baptista Junior detalhou reuniões sobre golpe e disse que Marinha se colocou à disposição de Bolsonaro para impedir posse de Lula
247 - O depoimento do ex-comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, prestado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), agravou ainda mais a situação de Jair Bolsonaro (PL) e do almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha. Com uma fala firme e estruturada, Baptista Junior detalhou, durante uma audiência de uma hora e vinte minutos, realizada na quarta-feira (21), que participou de reuniões no Palácio da Alvorada em que Bolsonaro discutiu a aplicação de medidas de exceção baseadas em uma minuta golpista. Segundo o militar, o plano não foi adiante porque não houve “participação unânime das Forças Armadas”. Ele também afirmou que o então comandante do Exército, general Freire Gomes, reagiu com veemência ao plano, a ponto de ameaçar Bolsonaro com prisão.
Um advogado de um dos alvos da investigação, ouvido por Malu Gaspar, do jornal O Globo, descreveu que Baptista Junior foi direto e não demonstrou qualquer hesitação, diferentemente do comportamento de Freire Gomes. “Ele é bem articulado e prestou um depoimento que vai fazer muita gente sofrer. Foi o mais incisivo de todos, seguindo uma lógica, com começo, meio e fim. (...) Baptista Junior colocou o Freire Gomes (que tentou suavizar o papel de Garnier na trama golpista, até ser enquadrado por Moraes) numa situação quase de acareação".
Um segundo advogado diz que a situação de Bolsonaro “se complicou”. Outro defensor destaca que o brigadeiro foi “firme”, “falou com convicção” e “sem titubear”.
A firmeza do ex-comandante da Aeronáutica também teria influenciado na postura de Moraes, que, nesta audiência, manteve uma atuação mais discreta, em contraste com a sessão anterior, na segunda-feira (19). Na ocasião, Moraes demonstrou irritação ao confrontar Freire Gomes sobre mudanças em sua narrativa. O ministro apontou contradições entre o novo depoimento e o que o general havia declarado à Polícia Federal em 2023. Moraes foi direto: “solicito que antes de responder, pense bem. Vossa Senhoria disse à Polícia Federal que o depoente (Freire Gomes) e o brigadeiro Baptista Junior falaram de forma contundente ao conteúdo exposto (da tentativa de golpe), que não teria e jurídico para tomar qualquer atitude, que o almirante Garnier teria se colocado à disposição do presidente da República. Ou o senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando a verdade aqui".
Em seguida, o ministro advertiu Freire Gomes sobre o artigo 342 do Código Penal, que pune com até quatro anos de prisão o crime de falso testemunho. O alerta veio após o general tentar minimizar a conduta de Garnier, alegando não ter presenciado nenhum “conluio”.
Baptista Junior, por sua vez, foi categórico ao afirmar que Garnier havia se comprometido com Bolsonaro. “Eu não fiquei sabendo à toa que a Marinha tem 14 mil fuzileiros”, declarou, numa referência direta à disposição das tropas navais para sustentar o plano golpista.
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