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      “Conferir um diploma em psicanálise é uma facada no coração da sua estrutura”, diz Luciano Elia

      Luciano Elia defende o caráter atópico da psicanálise e critica sua institucionalização como curso de graduação universitária

      (Foto: Divulgação )
      Dafne Ashton avatar
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      247 - Em entrevista ao programa Papo Curvo, exibido pela TV 247, o psicanalista Luciano Elia fez uma contundente defesa da singularidade da psicanálise frente às instituições acadêmicas e ao mercado. Para ele, qualquer tentativa de transformar a formação psicanalítica em uma graduação universitária compromete sua essência. “Conferir um diploma em psicanálise é uma facada no coração da sua estrutura discursiva”, afirmou.

      Segundo Elia, a psicanálise ocupa um “lugar atópico” na sociedade — ou seja, um lugar sem lugar fixo, marcado por contradições e tensões. “A psicanálise se estabeleceu culturalmente, mas sempre em confronto com os mecanismos de institucionalização. Trabalhar com ela é sustentar paradoxos o tempo todo.”

      A crítica mais direta recai sobre a ideia de criar cursos superiores específicos de psicanálise. Para o psicanalista, esse modelo desrespeita a lógica interna da prática clínica. “Não é como cursar medicina ou psicologia. A psicanálise não é um saber que se transmite apenas por teoria ou grade curricular. Torná-la graduação é apagar o seu caráter atópico.”

      Elia também abordou a elitização das instituições psicanalíticas, reconhecendo que elas historicamente excluíram pessoas negras, pobres e de trajetórias periféricas. No entanto, alerta para os riscos de resolver esse problema por vias institucionalizantes. “É falso afirmar que a graduação democratiza. Se a gente enfrenta essas questões de qualquer jeito, acabamos fora da psicanálise.”

      Com mais de 30 anos de atuação em saúde mental, o psicanalista relatou sua experiência na implementação de um mestrado em Psicanálise e Políticas Públicas em Campo Grande, zona oeste do Rio. “A universidade foi uma ferramenta importante, mas ela é contingente, não necessária. A psicanálise pode se articular com instituições, desde que sem abrir mão da sua lógica.”

      No consultório, Elia sustenta uma prática que se contrapõe às pressões mercadológicas. “Eu atendo pessoas que pagam pouco, artistas sem renda, porque o país devastou o setor cultural nos últimos anos. A análise não deve se guiar por valores de mercado, e sim por uma posição ética que reconhece a singularidade de cada caso.”

      Ao falar sobre o avanço da psicanálise nos meios digitais, especialmente após a pandemia, ele se mostra cauteloso. Embora reconheça efeitos analíticos nas sessões online, considera que o modelo presencial oferece uma dimensão real insubstituível. “A prática remota pode funcionar, mas nada substitui a presença. O consultório é uma contingência, não um lugar necessário, mas há algo na presença que escapa à tela.”

      Para Elia, a psicanálise não se presta a práticas humanitárias ou educativas no sentido tradicional. “O analista não está ali para defender direitos ou fazer o bem. A ética da psicanálise não é a do humanismo. O que nos guia é o discurso do inconsciente, que escapa às boas intenções e às estruturas rígidas da razão.”

      Em um momento político que descreve como hostil à subjetividade, marcado por necropolítica, neoliberalismo e discurso tecnocrático, Elia vê a psicanálise como um ato de resistência. “Vivemos uma época que rejeita o sujeito. Tudo é protocolar, esquadrinhado, sem espaço para o desejo ou para o mal-estar. A psicanálise causa incômodo porque insiste no que escapa à normatização.”

      Ao refletir sobre o papel da arte nesse cenário, ele propõe uma distinção essencial: “A arte pode ser atópica, mas a psicanálise é atópica por estrutura. O artista está em relação com sua obra como sujeito; o analista, ao contrário, ocupa o lugar de objeto para que o sujeito do analisante emerja.”

      Na visão de Luciano Elia, sustentar a psicanálise exige preservar sua estranheza. “Não há equivalência entre o ato analítico e o ato artístico. O analista não cria, ele se retira. Seu ato é ético, não expressivo.” E conclui: “Onde houver alguém que queira falar, ali pode haver psicanálise — mas nunca como um curso, nunca como diploma. A psicanálise é um lugar que escapa a todos os lugares.” Assista: 

       

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