Albanese conquista reeleição e lidera primeiro governo trabalhista consecutivo em duas décadas na Austrália

247 - Em uma vitória histórica para o Partido Trabalhista australiano, o primeiro-ministro Anthony Albanese garantiu neste sábado (3) um segundo mandato consecutivo de três anos, algo que não ocorria há 21 anos no país. A informação foi divulgada inicialmente pela agência Australian Broadcasting Corporation (ABC) - e repercutida pelas agências The Associated Press e Reuters - que também projetou o novo mapa político da Câmara dos Representantes com base nos dados da Comissão Eleitoral Australiana.

O líder da oposição, Peter Dutton, reconheceu a derrota na noite da eleição e declarou: “nós não fizemos o suficiente durante esta campanha, isso está claro nesta noite, e eu assumo total responsabilidade por isso". Em seguida, afirmou ter ligado para Albanese para parabenizá-lo: “é uma ocasião histórica para o Partido Trabalhista e nós reconhecemos isso".

De acordo com as projeções oficiais, o Partido Trabalhista, de centro-esquerda, conquistou 70 cadeiras na Câmara Baixa do Parlamento, composta por 150 assentos. A coalizão conservadora da oposição ficou com apenas 24, enquanto partidos menores e candidatos independentes devem ocupar 13 cadeiras. O respeitado analista Antony Green, da ABC, estimou que os trabalhistas devem alcançar ao menos 76 cadeiras, o número necessário para formar maioria absoluta, enquanto a oposição não teria sequer margem para tentar um governo minoritário.

Discurso de vitória e foco em “valores australianos” - Em seu discurso de vitória, Albanese celebrou o resultado como uma afirmação do povo australiano diante de tempos difíceis. “Neste momento de incerteza global, os australianos escolheram otimismo e determinação”, afirmou o premiê, que acrescentou: “nosso governo escolherá o caminho australiano porque temos orgulho de quem somos... Não buscamos inspiração no exterior. Encontramos aqui, em nossos valores e em nosso povo".

Albanese agradeceu à população pela renovação de seu mandato: “servir como seu primeiro-ministro é a maior honra da minha vida. É com um profundo senso de humildade e responsabilidade que digo obrigado ao povo da Austrália pela oportunidade de continuar a servir à melhor nação da Terra".

Ele também ressaltou os princípios que guiarão sua istração: “hoje, o povo australiano votou por valores australianos. Por justiça, aspiração e oportunidade para todos. Pela força de mostrar coragem na adversidade e bondade com os que precisam. E os australianos votaram por um futuro fiel a esses valores, construído com tudo o que nos une como nação e nos diferencia do mundo".

Crise do custo de vida e disputa sobre política energética - A eleição foi marcada por um debate acalorado sobre inflação e crise no custo de vida. Ambas as campanhas reconheceram o impacto do cenário econômico, com destaque para o dado alarmante da Foodbank Australia: em 2024, cerca de 3,4 milhões de lares — em um país de 27 milhões de habitantes — enfrentaram insegurança alimentar.

A taxa básica de juros, reduzida pelo banco central em fevereiro para 4,1%, deve sofrer novo corte em maio, como forma de estimular investimentos em meio à instabilidade provocada pelas políticas tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

No campo energético, enquanto os trabalhistas apostam na ampliação das fontes renováveis, como energia solar e eólica, a coalizão de Dutton defende o uso crescente de energia nuclear como forma de conter o custo da eletricidade. O Partido Trabalhista acusou os conservadores de imitarem políticas de inspiração trumpista, chamando Dutton de “DOGE-y Dutton” — um trocadilho pejorativo com seu nome e a criptomoeda Dogecoin. Para os trabalhistas, a oposição pretende “importar” um modelo de cortes radicais em serviços públicos para bancar seus planos energéticos.

Em sua resposta, Albanese criticou esse tipo de abordagem: “vimos a tentativa de implantar aqui um estilo de política americano, de divisão e de colocar os australianos uns contra os outros, e acho que isso não é o jeito australiano".

Nova composição parlamentar pode exigir negociação - Antes da eleição, os trabalhistas detinham uma estreita maioria de 78 assentos em uma câmara com 151 cadeiras. Agora, com a redistribuição do número total para 150, a perda de mais de duas cadeiras poderia forçar a formação de um governo minoritário, a depender do apoio de parlamentares independentes.

Nos últimos cem anos, apenas em duas ocasiões o país teve governos minoritários — a mais recente em 2010, e a anterior durante a Segunda Guerra Mundial. Em 2010, foram necessários 17 dias de negociação até que independentes decidissem apoiar a formação de um governo trabalhista.

Concessão e reconhecimento da oposição - Apesar da derrota contundente, Dutton manteve o tom institucional e reconheceu o gesto do adversário: “agradeço a Peter por suas palavras generosas ao final de uma campanha muito disputada e quero aproveitar esta oportunidade para lhe desejar o melhor no futuro”, afirmou Albanese.

Geração em transição e apelo à juventude - Outro fator decisivo nesta eleição foi a mudança demográfica: pela primeira vez, os Baby Boomers, nascidos entre o pós-guerra e 1964, foram superados em número pelos eleitores mais jovens. Os dois campos apresentaram propostas voltadas à juventude, com foco especial em facilitar o o à casa própria em um mercado imobiliário cada vez mais inível.